Esparsos e parcos apontamentos

terça-feira, novembro 30, 2004

Velocidades

Quando que leio a contracapa de um romance escrito por uma mulher, reparo que a promoção assenta invariavelmente na alegada descrição exemplar e única do universo feminino.

Ou tenho andado a usar os WC errados há anos ou o suposto universo feminino pode ser também masculino, ou melhor, assexuado, humano e não é mais do que justamente um universo de sensibilidades e emoções unissexo.

Nestes sete melancólicos contos, Rebecca Miler constrói os percursos, vivências e desventuras de sete mulheres desenraizadas, plenas de erotismo, ambição, vontade de de crescer, de sair, de extravasar os seus frágeis corpos, tudo descrito com uma simplicidade desarmante.

"Todos temos a nossa própria velocidade pessoal", diz um pai à filha que vinga no trabalho depois de anos de mediocridade, é o mote para as mudanças que as protagonistas sofram e desejam.

segunda-feira, novembro 22, 2004

Ânsia, knocks me off my feet!

Para C.

É sempre assim quando se conhece alguém novo, necessidade que já sentia há muito, gente nova, nova para mim e não em absoluto, sem ter que meter um anúncio na internet a dizer que queria conhecer gente, né?, mas como dizia, é sempre assim quando se conhece alguém novo.

A ficha demorou a cair talvez tempo demais, mas caiu em boa hora, constituindo um acontecimento, ora!, passar uma semana a pensar em alguém é normalíssimo, saber que o outro alguém fez o mesmo é uma coincidência que não se pode deixar passar, e depois vieram os SMS, mais tarde os abracinhos, e festinhas, e carinhos sem ter fim pra acabar com esse negócio de você viver sem mim, e piscas o olho aqui, e além e sempre, beijinhos inocentes e o sentimento de faltar alguma coisa, um piscar mais intenso, um abraço mais apertado, uma mensagem mais clara, mais forte, mais tudo!

Fui dormir entre almofadas e mensagens, a sonhar com coisas pra te dizer, apontei-as na memória e espero encontrá-las quando mais precisares de as ouvir, guardei-as longe pra não te soterrar com palavras, vou doseá-las como um petisco requintado, como a delícia que és, nham!

Agora contorço-me na cadeira de trabalho, penso em ti, em mim, em nós, já temos um nós?, no mar, na terra, nos continentes e cordilheiras, nas estrelas e em tudo o que voa, ou só plana, ou nem isso, não te quero maçar, agarro no telefone e escrevo mensagens que não mando, não te quero maçar, só penso, é isso, só penso e nada faço, não te vou maçar.

Vou dançar no escuro, imaginar o teu lindo rosto iluminado apenas pela insignificante luz do aparelho que reproduz a música que traz a tua imagem, porque sim, por nenhuma razão em especial, acho que qualqer coisa me faz lembrar de ti, basta estar acordado, se estivesse a dormir não me lembraria, sonharia, e amanha faço qualquer coisa, não acredito em esperas, a vida não espera por ninguém, porque haverias tu ou eu de o fazer?

sábado, novembro 20, 2004

Sabadão!

É Sábado de manhã, está um Sol lindo e não há razão pra não estar feliz!

BOM DIAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

:-D

Skank Tão Seu

Sinto sua falta
Não posso esperar tanto tempo assim
O nosso amor é novo
É o velho amor ainda e sempre

Não diga que não vem me ver
de noite eu quero descansar
Ir ao cinema com você
Um filme à toa no Patê

Que culpa a gente tem de ser feliz ?
Que culpa a gente tem, meu bem ?
O mundo bem diante do nariz
Feliz aqui e não além...

Me sinto só, me sinto só
Me sinto tão seu...
Me sinto tão, me sinto só
E sou teu
Me sinto só, me sinto só
Me sinto tão seu
Me sinto tão, me sinto só
E sou teu

Faço tanta coisa
Pensando no momento de te ver
A minha casa sem você é triste
A espera arde sem me aquecer

Não diga que você não volta
Eu não vou conseguir dormir
À noite quero descansar
Sair à toa por aí!

quinta-feira, novembro 11, 2004

Zénite

Para S.

Num piscar de olhos, o Sol deixa de subir e começa a descer, assim mesmo, de repente, sem avisos ou contemplações, dúvidas ou hesitações, e nesse segundo apenas tudo muda, as sombras, a temperatura, as pessoas, a manhã passa a tarde, o bom dia a boa tarde, a chegada dá lugar à partida, o cumprimento esvai-se em despedida.

Vejo a minha sombra alongar-se e pergunto-me onde irá parar, até onde chegará até que o Sol desapareça de vez e deixe como ténues substitutas as estrelas.

Se estivesse na pampa sul-americana, num deserto africano ou na tundra siberiana, fixaria um ponto no horizonte e, de costas voltadas ao Sol, esperaria pacientemente que a minha sombra lá chegasse, quieto, calado, e seguiria a distância a percorrer, sabiamente ditada pelo astro.

Cruzaria os Pirineús, cavalgaria nos Alpes e com os Cárpatos como trampolim, atravessaria os Urais, ao ritmo das sombras, caminhando a distância certa, simplesmente aquela e não mais, todos os dias, pensado que passarei por ti, várias vezes, quantas vezes só o Sol o sabe, até que um dia venhas também ver o mundo em espirais de luz.

Novembro

Relutantes em desarrumar as roupas de Inverno, quase todos envergam duas peças de roupa que com facilidade descartam para sentir na pele um pouco de Sol que ainda brilha forte.

Lisboa tem esta vantagem: o Sol brilha quase sempre, iluminandos os vetustos prédios da cidade e transformando em cores vivas e sons alegres os seus bairros, em qualquer estação do ano.

Os azuis do céu e do rio, o verde das alamedas com o espectro colorido, o acobreado do ocaso, mergulham a cidade milenar numa aura algo misteriosa, qualquer coisa de imaginário paira sobre quem se passeia pelas ruas inclinadas.

Sorrio ao Sol que me bem-dispõe.

segunda-feira, novembro 08, 2004

QI?!

Recebi isto hoje pelo correio...



... um exercício imaginativo de tentar aliar o Quociente de Inteligência médio com o candidato presidencial mais votado por estado dos Estados Unidos da América.

Devo dizer que o que me saltou logo à vista foram as letrinhas do fundo em que se ressalta que os dados não podem ser tomados como factos.

E facto é que Bush foi o mais votado, quer isso agrade ou não à Europa iluminada de segundas escolha, males menores e histerias esquerdistas.

Não percebo porque se querem branquear os resultados de umas eleições que decorreram na normalidade, democraticamente, registando recordes de adesão. Por mais que nos desagrade a figura ou os actos de Bush, duvido que alguém apoiasse Kerry com base nas suas convicções políticas ou programa eleitoral, era simplesmente o mal menor ou a vontade de poder gritar que a política imperalista tinha acabado ou qualquer asism batida.

Lamento informar-vos mas se o QI influenciasse as opções políticas, Portugal seria então um reduto europeu de Republicanos, de acordo com os valores de QI europeu. Melhor ainda: seríamos mais burros que os Vietnamitas, os Ucranianos, os Chineses e os Norte Coreanos, o que estando directamente relacionado com as opções políticas fará estranhamente com o que o regime de todos esses seja mais livre e justo que o nosso.

Viva a manipulação.

quinta-feira, novembro 04, 2004

O Encontro

Em Paris tudo é qualquer coisa e qualquer coisa é fantástica.

Entre aquele céu e as margens do rio, com as suas inúmeras pontes iluminadas, estátuas altivas desafiando quem passa, algo que suceda é ampliado e sentido como se fosse simultaneamente o nosso primeiro e último dia, uma mistura de euforia ao descobrir um novo mundo e o desejo de absorver um pouco de tudo no escasso tempo da despedida.

Ali se dá o reencontro, numa livraria do Quartier Latin. Não há qualquer inibição inicial apesar dos quase dez anos que os separavam, desde aquela noite em Viena. Nem espanto.

Por entre cigarros, ruelas e cafés, vão descobrindo o que fizeram enquanto sonhavam um com o outro assitindo à passagem da vida fluente, imparável e indiferente.



Apanham o barco para esticar o pouco tempo que lhes resta juntos e, depois do Sol iluminar magistralmente a sua beleza, no banco de trás de um carro com motorista, confessam o desespero que é viver, o fracasso do Amor, ao mesmo tempo que o assombro desse encontro se vai aos poucos esvaindo para dar lugar à aceitação da solução que se perfigura, do futuro.

Sobem as escadas em silêncio, seguros e conformados como se de uma sentença se tratasse.

Nesses dez anos, haviam vivido dos 25 aos 35, acumulando amores e falhanços, sentindo crescer o conformismo de quem já não sabe amar, uma década de vazios emocionais em que o calor da sua memória lhes iluminava o caminho, lhes dava força para continuar a tentar, iniciar mais relações em que sabiam de antemão que em nada seriam comparáveis a Viena, uma noite, um Amor.

Retiveram a memória do seu último encontro como o último amor possível, a última oportunidade, o último momento de felicidade verdadeira, desperdiçado e longínquo.

Agora, num loft, com chá e jazz tudo fica diferente.

terça-feira, novembro 02, 2004

Ontem

Ontem, adv. no dia anterior ao de hoje, antigamente.

Charles Aznavour Hier Encore

Hier encore
J'avais vingt ans
Je caressais le temps
Et jouais de la vie
Comme on joue de l'amour
Et je vivais la nuit
Sans compter sur mes jours
Qui fuyaient dans le temps

J'ai fait tant de projets
Qui sont restés en l'air
J'ai fondé tant d'espoirs
Qui se sont envolés
Que je reste perdu
Ne sachant où aller
Les yeux cherchant le ciel
Mais le coeur mis en terre

Hier encore
J'avais vingt ans
Je gaspillais le temps
En croyant l'arrêter
Et pour le retenir
Même le devancer
Je n'ai fait que courir
Et me suis essoufflé

Ignorant le passé
Conjuguant au futur
Je précédais de moi
Toute conversation
Et donnais mon avis
Que je voulais le bon
Pour critiquer le monde
Avec désinvolture

Hier encore
J'avais vingt ans
Mais j'ai perdu mon temps
A faire des folies
Qui ne me laissent au fond
Rien de vraiment précis
Que quelques rides au front
Et la peur de l'ennui

Car mes amours sont mortes
Avant que d'exister
Mes amis sont partis
Et ne reviendront pas
Par ma faute j'ai fait
Le vide autour de moi
Et j'ai gâché ma vie
Et mes jeunes années

Du meilleur et du pire
En jetant le meilleur
J'ai figé mes sourires
Et j'ai glacé mes pleurs
Où sont-ils à présent
A présent mes vingt ans?