Zénite
Num piscar de olhos, o Sol deixa de subir e começa a descer, assim mesmo, de repente, sem avisos ou contemplações, dúvidas ou hesitações, e nesse segundo apenas tudo muda, as sombras, a temperatura, as pessoas, a manhã passa a tarde, o bom dia a boa tarde, a chegada dá lugar à partida, o cumprimento esvai-se em despedida.
Vejo a minha sombra alongar-se e pergunto-me onde irá parar, até onde chegará até que o Sol desapareça de vez e deixe como ténues substitutas as estrelas.
Se estivesse na pampa sul-americana, num deserto africano ou na tundra siberiana, fixaria um ponto no horizonte e, de costas voltadas ao Sol, esperaria pacientemente que a minha sombra lá chegasse, quieto, calado, e seguiria a distância a percorrer, sabiamente ditada pelo astro.
Cruzaria os Pirineús, cavalgaria nos Alpes e com os Cárpatos como trampolim, atravessaria os Urais, ao ritmo das sombras, caminhando a distância certa, simplesmente aquela e não mais, todos os dias, pensado que passarei por ti, várias vezes, quantas vezes só o Sol o sabe, até que um dia venhas também ver o mundo em espirais de luz.
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