O acidente
Já é sabido que quem comete um delito se cofessa ao fugir ou pela simples manifestação da intenção de o fazer. Mais raro é tentar enquadrar essa falta na normalidade que todos temos por aceite.
A Igreja Holandesa, em mais uma das grandes e enaltecedoras lições de moral que o Catolicismo nos tem ensinado nos últimos séculos, qualificou o abuso sexual de um dos seus padres a uma menina menor, como um acidente de trabalho, uma vez que os abusos ocorreram durante o horário de trabalho do senhor padre e no seu local de trabalho.
Depois de condenada judicialmente a pagar uma indemnização por danos imateriais, a Igreja envolveu-se numa disputa com a sua seguradora que, com a lógica vigente, não aceita pagar a quantia disposta pela tribunal argumentando que, de facto, não se trata de um acidente de trabalho.
Aos mais distraídos recordo que um acidente costuma ser algo de imprevisível, incontrolável, assim como ser mordido por um leão à solta, abalroado por uma locomotiva desgovernada ou sepultado por um piano numa rua da Baixa.
Já sabemos há muito que a escola dos Domingos de manhã serve para muito mais que ensinar a Bíblia, mas querer reduzir o crime de pedofilia ou violação de menores a um acidente ultrapassa a decência e provoca tal indignação que até me falta o ar para gritar bem alto, aturdido que estou pela desfaçatez de levantar tal argumento. Quanta hipocrisia.
1 Comments:
se eu fosse Igreja, também consideraria imprevisível e incontrolável o abuso sexual de uma garota. Imprevisível, pq n é suposto um digno representante da cruz molestar uma menina; e incontrolável porque, sendo padres, vivem no mundo de satã e por ele são tentados a cada instante.
Na verdade, esse padre é um mártir.
:PPPP
Moira Encantada, La Vieja
7/11/04 00:27
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