O Dia de Hoje

Não é que desgoste, mas não nutro especial interesse por efemérides, talvez por achá-las efémeras. É certo que há datas que não convém esquecer, outras que não interessa lembrar mas de uma forma geral o que desejamos, aquilo em que acreditamos não tem data fixa, acontece continuamente, flúi.

Hoje dediquei o dia a lavar ténis, a arranjar persianas, depois do exercício intenso de ontem a mudar pneus.

Eis o que descobri acerca do 26 de Junho:

1963 - Jonh Kennedy discursa em Berlim Ocidental afirmando convincentemente Ich bin ein Berliner! perante uma multidão em apoteose. De acordo com algumas vozes perniciosas, a frase que hoje recordamos significa em alemão Eu sou uma Bola de Berlim!. A efeméride foi hoje assinalada com um grupo de saudosos alsacianos vestidos de croissant com ovo que desfilaram em frente ao Reischtag brandindo palavras de ordem como O meu açúcar é fino ou Enrugados mas nunca gordurosos

1977 – Elvis Presley dá o seu último concerto em Indianápolis, Indiana, EUA. A data foi recordada esta tarde por uma multidão ululante de M&M’s e Conguitos vestidos com folhos de variadas cores enquanto um Pélvis saltitante foi perseguido pelas vielas de Elvas.
Paco Bandeira disse à imprensa “Depois de anos a ouvir o meu apelo, Elvis só pode estar a monte em direcção a Badajoz”, aturdido pelo choque de ver o Rei na sua cidade. Depois de ter simulado a sua morte em Agosto de 1977, o Rei fez a mala com as suas camisas havaianas e foi definitivamente para as Bahamas, deixando a ilha apenas para comparecer aos seus concursos de sósias

Outras coisas menores aconteceram tais como:

1819 – Patente da bicicleta (esta era difícil…)

1945 – Assinatura da Carta das Nações Unidas (?!)

1960 – Independência da Somália (de quem?)

2001 – JURO que vi o Elvis a fritar farturas na feira de Peniche!!! Que destreza a manejar a seringa, que leveza no gesto de as passar pelo açúcar, até o óleo parecia borbulhar ao ritmo do Jailhouse Rock… (han?)

Ah, e telefonei a em amigo que faz hoje anos e coisa mais preciosa no mundo não há!

Boa semana.

Tontas Luas

É mais ou menos isto que vejo da minha janela quando está Lua Cheia...



Não me ocorre agora nenhuma explicação verosímil mas olhar a lua assim cheia desperta em mim aquele sentimento da passagem de ano, em que falamos pra dentro a fazer promessas enquanto deglutimos passas (do Algarve até!).

A verdade é que assim me sinto mais índio que cristão quando me ponho à janela a pensar:

- eeeeeeeia, só já falta uma lua pra ir à festa de inauguração do Verão na Casa do Castelo, que diz que até as casas de banho são um mimo!

- hummm, daqui a três luas espero que já esteja mais fresquinho pra poder desligar aquela ventoinha irritante

- cruzes, pouco mais que seis luas pra comer aquele cabrito outra vez no dia de Natal...

Tonto: Here, guns, to kill bad men.
Reid: I'm not going to do any killing.
Tonto: You not defend yourself?
Reid: I'll shoot if I have to. But I'll shoot to wound, not to kill. If a man must die, it's up to the law to decide that, not the person behind a six-shooter!
Tonto: That's right, Kemo Sabe!
Tonto: You all alone now. Last man. You are lone Ranger.
Reid: Yes, Tonto... I am... The Loooooooooooooooooooooooooooooone Ranger!

HI HO SILVER!, e galopamos para outras luas

Joyce e Chamuças

"Um dia não são dias", diz o povo e quem mais vier, mas há dias (só um mas no plural) que assim mesmo se transformam em dias, sim, há dias que parecem não acabar, ou melhor, não deixar de existir, não desaparecem como todos os outros que ficam lá atrás, guardados e desprovidos de um significado comum, prontos para ser recordados apenas num arquivos de jornal. Da mesma forma que há pessoas que não morrem apenas, permanecem, revivem, renascem, aparecem, andam por aí na forma de livros, melodias, estátuas, imagens, espaços, cores, roupas, casas, prédios, obra!

Acordei com vontade de beber um Burgundy, tinto e seco, que acompanha bem com uma sandes de Gorgonzola, acabei por me ficar com a costumeira chamuça com imperial, afinal um lanche bem mais português. Alguém falou em Trieste,

"deve ser giro, era território austríaco ate há tão pouco tempo, estado independente durante uns anos, frequentado por artistas desiludidos!,"

e logo me veio à memória Joyce, esse mesmo, que lá viveu uns anos de alcoolismo, depressão e paixão (sinónimos?), que lá começou a escrita desse tal romance moderníssimo que pede emprestado o nome a outro, antigo, clássico, a história do fundador da nossa cidade de regresso à sua.

Hoje é o dia que em todos peregrinamos erroneamente na senda da nossa Ithaca, hoje é o dia da longa viagem, que não mais é que interior, hoje é o dia de regressar para recuperar o que afinal terá que ser novamente construído, atirar para bem longe a nostalgia e refundar a vida.

Eu continuo a querer a sandes de Gorgonzola, Joyce, Blomm, Homero, Molly, Blommsday, Penélope, Ithaca, Ulysses, Olissipo que voltem para o ano...!

Dizia o poeta

O sorriso

Creio que foi o sorriso, sorriso foi quem abriu a porta. Era um sorriso com muita luz lá dentro, apetecia entrar nele, tirar a roupa, ficar nu dentro daquele sorriso. Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

Eugénio de Andrade

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades - O dia de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luiz Vaz de Camões