Esparsos e parcos apontamentos

segunda-feira, abril 25, 2005

Eu é que sei!!!

Gosto de procurar informação na internet quando nada tenho para fazer. Na verdade, eu tenho sempre algo para fazer, mas mesmo assim, passo tempo a tentar descobrir notícias, acontecimentos e informação que não vem nos jornais (que, por falar nisso, já não perco muito tempo a ler...). Há dias tropecei nisto, um relato na primeira pessoa de um dos presos políticos de Fidel Castro em Abril de 2003, em plena campanha iraquiana. Enfim, um rol de atrocidades a que as ditaduras nos têm vindo a brindar, celas pequenas, condições inexistentes de higiene para detenções por motivadas por delitos de opinião, para não falar no próprio comportamento humano em situações extremas como estas, auto-mutilação, recuperação de memória selectiva, só para citar alguns.

Até aqui, nada de novo, se não fosse uma conversa que tive há pouco tempo com um amigo de longa data lá da terra, militante activo, creio, no pcp.

Dizia ele, do alto das suas convicções, que achava razoável as prisões políticas em Cuba, logicamente extrapoláveis a outros lugares do mundo, onde existisse uma revolução em curso, um caminho certo que necessita de ser percorrido e sai naturalmente prejudicado com a presença de determinados indivíduos que não estão, por uma ou outra razão insondável, de acordo com esse desígnio.

Depois do choque inicial testemunhado pela Moira (tks pelos comentários preciosos aqui no blogue, os que já fizeste e os que vais fazer... ;-)), vasculhei no calderão de memórias e efectivamente pude verificar que a malta lá desse clube é toda assim um bocado, como dizer, tacanha! Lembrei-me, por exemplo, daquele rapaz que tinha dúvidas sobre a democracia na Coreia do Norte, além da sua ignorância acerca de presos políticos na supracitada ilha de Cuba.

Eu podia apelar ao estudo, assumir uma atitude paternalista de os mandar a todos ler História, o que não dispensa, obviamente, a leitura de um jornal que não o pasquim lá da seita. Acrescentaria que, pelos elevados padrões da moralidade comunista, seria aceitável que os membros dum partido que manifesta publicamente tais opiniões, claramente contrárias ao regime vigente, deveriam ser também afastados, numa operação de limpeza necessária e legítima para o prosseguimento da nossa tão cara democracia, que é, como muitos dirão, o caminho certo... isto acompanhado de um das frases charneira despótica como "eu é que sei" ou "um dia ainda me darás razão e agradecerá as medidas correctivas que te apliquei"!

Mas prefiro deixar aqui o meu profundo e sincero desagrado e mal-estar pela ignorância e visão curta que emanam de um partido com assento parlamentar, co-responsável pelas leis da República. Lamento ainda mais que a juventude de tal organização conserve os vícios e perpetue os argumentos esfarrapados de defesa e justificação dos mais hediondos acontecimentos cometidos em nome de um culto, preferindo as trevas do pensamento à voz da razão.

Hoje celebra-se a Liberdade, o dia em que Portugal iniciou a sua longa e penosa caminhada em direcção à democracia, o dia em que se libertaram os presos políticos, o dia em que os militares do meio da cadeia hierárquica declararam a vontade de entregar o poder ao povo.

Bom Dia da Liberdade!


P.S.: o mundo não é perfeito... o regime cubano não é inocente mas nem sempre culpado...

2 Comments:

Blogger Coroneu said...

É isso mesmo! Tu é que sabes!

27/4/05 23:18

 
Anonymous Anónimo said...

Nada que obrigadar.

Não julgo que a visão curta e tacanha seja característica do partido, apesar de não lhe reconhecer amplitude ou esmero. à medida que a informação vai descendo, corrompe-se, deforma-se - como um saco de rede onde é precico caber muita gente. No fundo, acontece o mesmo com todas as doutrinas, mais ou menos acentuadamente. Se Marx e/ou Engels soubessem a quantidade de atrocidades cometidas em seu nome, certamente esconderiam o manuscrito, codificado de forma a apenas ser compreendido quando o mundo estuivesse preparado para tal. Mas a praga estende-se à grande maioria dos ideólogos, eplo que não há muito a fazer. Resta-nos gritar, como Brian, "you are all individuals, you are free, you don't have to follow anybody!" e esperar que não nos respondam, em coro "yes, we are all individuals. Tell us how to be free, tell us more, tell us everything!". Ou até mesmo esperar que haja uma meia dúzia que nos responda "i'm not..."

16/5/05 19:52

 

Enviar um comentário

<< Home