caro frederico.
É raro reler.
À excepção daquele Verão em que a escassez de livros que levei para a praia do Baleal (misto de descuido e esperança secreta de que a estival estadia fosse socialmente mais animada) me levaram a reler “Um Amor Perfeito” pelo menos umas três vezes. Minto se não disser que tinha outros volumes comigo mas a certeza de que os esgotaria de qualquer forma e a vontade de viver outra vez o romance de David Mourão-Ferreira conduziram à leitura exaustiva da bela história de Y.
Em Setembro passado, dei comigo a vasculhar molhos de livros no cinzento subsolo da estação do oriente e, entre a novidades saramaguianas e a indecisão já costumeira nestas ocasiões de comprar outro Mário de Carvalho, lá encontrei “Pode Um Desejo Imenso”. Negando a fúria consumista e coleccionadora não comprei, “já li a trilogia e tudo comprada em saldos na feira do livro de 2005” e satisfeito com as escolhas do dia, fui-me dali.
Deambulava em Janeiro pela Fnac quando me movi especialmente à secção portuguesa para ver se encontrava algo para trazer comigo. Sei que nunca não me esquecerei da minha língua, mas sabe ainda melhor exercitá-la e exercê-la com correcção quando se vive no estrangeiro. “Pode Um Desejo Imenso” lá estava outra vez a chamar pelos meus ensejos coleccionistas e desta vez não resisti.
Nuno Galvão e a sua paixão arrebatada (pela vida afinal!) acompanharam-me na minha semana purgatório, em que saí de Lisboa com destino a Enschede com passagem por Edinburgh de armas e bagagens comigo. A certeza de não poder trazer tudo provocou em mim uma sensação pacífica de esquecimento pelo que ficou. Lá há-de vir quando calhar.
Assim tudo junto está melhor, toda a história é de repente mais consistente não só por estar ordenada cronologicamente como também por dispensar a existência de outros volumes.
Os livros não ficam na memória unicamente pela qualidade da sua escrita. Este, já inscrito na minha cabeça, passa agora a fazer parte das recordações perenes, afinal não é qualquer livro que se lê no purgatório.
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