Entering Somewhere Else
Como todos os dias, hoje temos efemérides. Permito-me a destacar algumas.
João de Santo Cristo vindo lá da Bahia directamente para Brasília é alvejado mortalmente nas costas por Jeremias Malvado. Arrependido de seus pecados, quando começa a sentir o sangue escorrer pela garganta, olha nos olhos do seu carrasco e profere as suas últimas palavras, “dê uma olhada no meu sangue e vem sentir o meu perdão”. Santo de nome merece incontestavelmente o título porque soube morrer.
Ratovski, autor destas linhas e de incomparáveis escritos como “A importância do vencedor do campeonato nacional no crescimento económico, 1954-1995” (em co-autoria), completa 28 anos de idade e inicia exactamente hoje o seu vigésimo nono ano de existência.
Até agora, nada a assinalar, nem queixumes, nem azedumes, nem especiais alvíssaras, a vida corre comme il faut. Neste dia, o eremita segue o seu caminho tentando passar despercebido pela multidão ululante, apesar do telefone que toca mais do que é hábito. Esta noite será a sua décima milésima ducentésima vigésima oitava e não são esperadas diferenças assinaláveis em relação a muitas outras, agirá normalmente sem qualquer sinal exterior de pânico.
Jeremiah de Saint-Amour chega a Cartagena de las Indias fugido dos corredores de morte e enfermidade do Haiti, sua terra natal onde nasceu bastardo filho de uma imigrante francesa após escaldantes noites de paixão com um escravo africano entre a roupa lavada e o gado. Inventaria mais tarde a palavra gerontofobia a que daria sentido prático através do seu suicídio cautelosamente premeditado para o dia em que completaria 60 anos, muitos anos após a sua chegada.
Isabella conhece Mishka numa praia da Crimeia. Juntos erraram por uma cidade portuária para nunca mais se reencontrarem na vida. Todos os anos neste dia ambos se interrogam acerca do que teria acontecido se outro dia tivessem passado juntos a falar de tudo e nada, passeando pelo ameno clima outonal do mar Negro. Ocuparão os seus últimos pensamentos com a imagem daquela tarde, as suas últimas palavras serão dirigidas um ao outro porém incompreendidas naturalmente por quem os assiste na morte em solo estrangeiro.
Podia ter escolhido outras, aniversários de celebridades, mortes gloriosas, tratados de paz, santos do altar. Prefiro assinalar os dias que realmente mudam o rumo da existência de um ser, ocasiões irrecuperáveis, alterações irrepetíveis.
8 Comments:
Ooooooooh bordelle!
24/1/06 14:12
Vraaaaaaaaaaai bordelllllllle
24/1/06 14:41
Un enorme bordelle en fait. On dirait un grand bordel de merde...
25/1/06 17:57
bordelle?k'es ke c ca?
27/1/06 09:02
This is not a translator, dear anonymous, drop me a line and I'll happy to explain you what's a bordelle :-P
This is a putain de bordelle...
27/1/06 09:15
Parabéns, meu grande amigo!
Estou indo pro México na semana próxima. Acho que estou me aproximando de tua terra! Daqui a um tempo estou por aí (se tudo continuar assim). Aí levo seu presente de 29 primaveras!!!
PARABÉNS!!!
30/1/06 04:42
O comentário anterior foi meu... (rsss)
Manoel d'Além Mar.
30/1/06 04:44
Muito kundera, sim senhor. Fazer 28 anos (o ano em que se repete o ciclo de dias da semana) faz isso a um homem. Já agora, parabéns atrasados.
E junto mais uma efeméride: dia 23 de Janeiro de 2006, Nelson e António apanhavam um avião para o Funchal e ficaram retidos mais de meia hora na fila da segurança do aeroporto. Chegaram tarde à porta de embarque e a funcionária da SATA, que acordou visivelmente mal disposta, começou a implicar com a hora tardia a que embarcavam. É pena, até era jeitosa, podia ter dado um romance a altitude decaquilométrica. Assim, deu apenas para irritar um pouco. Aaaaaah, chamar "vaca" a uma mulher que acabaste de ver pela primeira vez tem o seu quê de exorcismo. Permite expelir as frustrações de um amanhecer demasiado madrugador
30/1/06 18:25
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