Os Demónios de Alcácer-Quibir
O D. Sebastião foi para Alcácer-Quibir
de lança na mão a investir a investir
com o cavalo atulhado de livros de história
e guitarras de fado para cantar vitória
O D. Sebastião já tinha hipotecado
toda a nação por dez réis de mel coado
para comprar soldados lanças armaduras
para comprar o V das vitórias futuras
O D. Sebastião era um belo pedante
foi mandar vir para uma terra distante
pôs-se a discursar isto aqui é só meu
vamos lá trabalhar que quem manda sou eu
Mas o mouro é que conhecia o deserto
de trás para diante e de longe e de perto
o mouro é que sabia que o deserto queima e abrasa
o mouro é que jogava em casa
E o D. Sebastião levou tantas na pinha
que ao voltar cá encontrou a vizinha
espanhola sentada na cama deitada no trono
e o país mudado de dono
E o D. Sebastião acabou na moirama
um bebé chorão sem regaço nem mama
a beber a contar tim tim por tim tim
a explicar a morrer sim mas devagar
E apanhou tal dose do tal nevoeiro
que a tuberculose o mandou para o galheiro
fez-se um funeral com princesas e reis
e etcetera e tal, viva Portugal!
Sérgio Godinho De Pequenino Se Torce o Destino (1976)
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