Esparsos e parcos apontamentos

quarta-feira, agosto 24, 2005

Os Demónios de Alcácer-Quibir

O D. Sebastião foi para Alcácer-Quibir
de lança na mão a investir a investir
com o cavalo atulhado de livros de história
e guitarras de fado para cantar vitória

O D. Sebastião já tinha hipotecado
toda a nação por dez réis de mel coado
para comprar soldados lanças armaduras
para comprar o V das vitórias futuras

O D. Sebastião era um belo pedante
foi mandar vir para uma terra distante
pôs-se a discursar isto aqui é só meu
vamos lá trabalhar que quem manda sou eu

Mas o mouro é que conhecia o deserto
de trás para diante e de longe e de perto
o mouro é que sabia que o deserto queima e abrasa
o mouro é que jogava em casa

E o D. Sebastião levou tantas na pinha
que ao voltar cá encontrou a vizinha
espanhola sentada na cama deitada no trono
e o país mudado de dono

E o D. Sebastião acabou na moirama
um bebé chorão sem regaço nem mama
a beber a contar tim tim por tim tim
a explicar a morrer sim mas devagar

E apanhou tal dose do tal nevoeiro
que a tuberculose o mandou para o galheiro
fez-se um funeral com princesas e reis
e etcetera e tal, viva Portugal!

Sérgio Godinho De Pequenino Se Torce o Destino (1976)